Fragmentos, contos, poemas, pensamentos e desabafos.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Dona Maria

Era um dia quente em alguma faculdade lotada, as pessoas se concentravam em uma ala apenas;
De resto, o campus era deserto.
Indo para o lado deserto do campus, vi dois guardas.
Enquanto me aproximava, os vi puxando uma mulher de sua bicicleta e a derrubando no chão. Em seguida, a mataram.
Não sei por quê, não sei por onde.
Enquanto morria, a mulher fitava fixamente meus olhos.
Senhora já de idade, rosto fatigado pelo trabalho duro de uma vida inteira, muito magra, pele escura e lenço vermelho amarrado na cabeça.
Eu segui andando atordoada e sem entender. Só queria sair dali.
Passei na frente dos guardas, que pareciam não me ver.
E logo na primeira rua que entro, vejo a mulher que fora morta, passando com sua bicicleta na esquina em minha frente.
Enquanto passava, olhava firmemente para mim.
Isso se repetiu até o anoitecer.
Não importava a rua que eu entrasse: lá estava ela, passando devagar com sua bicicleta e me encarando.
Eu estava sozinha, confusa e, agora, com medo.
Avistei então, duas mulheres em frente de uma casa. Pessoas que finalmente me enxergavam!
Fizeram um sinal para que eu entrasse na residência.
De alguma forma, confiava plenamente nas duas mulheres,
Me disseram que ali eu era apenas uma visitante, uma observadora perdida, e que Dona Maria me avistou enquanto sua alma deixava seu corpo. Acabou portanto, guardando rancor por eu não ter interfirido em sua morte.
Mas como me disseram: eu estava apenas observando, nada podia ser feito.
Decidi então, seguir o meu caminho e enfrentar sem medo o espírito daquela senhora.
Como era de se esperar, ela me parou na esquina seguinte, me encarando.
Então reuni coragem e disse calmamente,  olhando no fundo de seus olhos negros: "Dona Maria, a senhora vai com Deus agora, que eu também vou com Ele".
Acordei.