Fragmentos, contos, poemas, pensamentos e desabafos.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Minha vida.

Minha vida sempre foi muito difícil.
Sempre que tive ser a mais madura, mesmo cedo.
Minha vida nunca parou.
Por mais que eu fizesse tentativas frustradas de tomar as rédias, parar e ser estável, isso nunca funcionou.
Sempre nadei contra a maré, tentando ter uma vida normal.
Mas, a cada dois anos, um ano, seis meses, ela vira de ponta cabeça.
Sempre estive perdida.
Meus planos sempre foram desconstruídos sem a minha permissão ou previsão.
Como a gente faz pra se encontrar, depois de uma vida inteira de confusão?
Como a gente pára, se nosso corpo nunca soube o que é estar estático?
Como é possível fazer planos, sabendo que nunca se realizarão?
É dificil viver na incerteza.
É dificíl viver quando se sabe que nunca terá uma vida.
Eu sou como um carro desgovernado, sem freios: só esperando me encontrar com um muro que acabe logo com isso.

sábado, 17 de dezembro de 2011

A pista que não vi

Esses dias me veio teu olhar na mente.
E, de repente, aquele olhar que passei meses a fio tentando esquecer, tentando desesperadamente em prantos não lembrar, de uma mórbida maneira, me fez sentido.
Tomei pra mim o teu olhar vazio, seco e sem brilho.
Não de desistência, mas de total desesperança.
Nunca quis que você se fosse e nunca entendi tua partida.
Mas a tua escolha, agora, me faz total sentido.
Corajosa como sempre foi, tomou tua decisão e foi em frente.
Só aquele olhar deixastes como pista ali pra mim.
E eu cega, não vi.
Queria tua coragem e a tua certeza.
Mas teu olhar que me arrepia, eu queria mais é esquecer.
Sei que não posso. Ficou gravado em minha alma.
Dói, me desespera, e de tempos em tempos, me faz sentido.
Me sinto mais perto de ti quando compreendo teu olhar, mesmo sabendo que jamais a verei de novo.
Queria que voltasse.
Queria nunca ter te visto ir.
Queria que a pista que me deixastes para trás, jamais tivesse que existir.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Dona Maria

Era um dia quente em alguma faculdade lotada, as pessoas se concentravam em uma ala apenas;
De resto, o campus era deserto.
Indo para o lado deserto do campus, vi dois guardas.
Enquanto me aproximava, os vi puxando uma mulher de sua bicicleta e a derrubando no chão. Em seguida, a mataram.
Não sei por quê, não sei por onde.
Enquanto morria, a mulher fitava fixamente meus olhos.
Senhora já de idade, rosto fatigado pelo trabalho duro de uma vida inteira, muito magra, pele escura e lenço vermelho amarrado na cabeça.
Eu segui andando atordoada e sem entender. Só queria sair dali.
Passei na frente dos guardas, que pareciam não me ver.
E logo na primeira rua que entro, vejo a mulher que fora morta, passando com sua bicicleta na esquina em minha frente.
Enquanto passava, olhava firmemente para mim.
Isso se repetiu até o anoitecer.
Não importava a rua que eu entrasse: lá estava ela, passando devagar com sua bicicleta e me encarando.
Eu estava sozinha, confusa e, agora, com medo.
Avistei então, duas mulheres em frente de uma casa. Pessoas que finalmente me enxergavam!
Fizeram um sinal para que eu entrasse na residência.
De alguma forma, confiava plenamente nas duas mulheres,
Me disseram que ali eu era apenas uma visitante, uma observadora perdida, e que Dona Maria me avistou enquanto sua alma deixava seu corpo. Acabou portanto, guardando rancor por eu não ter interfirido em sua morte.
Mas como me disseram: eu estava apenas observando, nada podia ser feito.
Decidi então, seguir o meu caminho e enfrentar sem medo o espírito daquela senhora.
Como era de se esperar, ela me parou na esquina seguinte, me encarando.
Então reuni coragem e disse calmamente,  olhando no fundo de seus olhos negros: "Dona Maria, a senhora vai com Deus agora, que eu também vou com Ele".
Acordei.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Alma que sangra

Era noite, uma noite calada.
Sem vento, nem frio e nem calor.
Um jovem estava sentado nos degraus da entrada de sua casa;
Casa antiga e de esquina, daquelas bem escuras, mesmo tendo a pintura clara nas paredes.
Móveis antigos e poucos, casa meio descuidada, típica de um jovem adulto morando sozinho.

O rapaz nos degraus fumava e tomava alguma bebida, parecia uísque ou conhaque.
A rua estava deserta, parecia não haver uma alma sequer naquela cidade monótona.
Ele, então, bebericou o final de sua bebida, terminou seu cigarro e levantou com o copo vazio em sua mão. Foi em direção à cozinha, que parecia mais um balcão de bar no final da sala.
Largou seu copo no balcão, tirou uma vela de uma gaveta aberta embaixo dele, acendeu;
Olhou para ela por alguns instantes.
Fechou os olhos e virou-se de costas, abaixou e pegou uma corda.
Subiu na cadeira de madeira que ali estava, amarrou a corda em uma das vigas do forro aberto de sua casa e pulou.
Seguro, entorpecido de dor, e decidido.
Deu fim a sua jovem e breve vida.
Libertou sua alma que, agora, parava aos poucos de sangrar.